Estamos desarmados
Eduardo
Barrufi
Senhores
bandidos: fiquem à vontade ao nos levar o que quiserem,
até nossas vidas. Estamos desarmados e vocês
sabem disso! Nos abordem com suas armas proibidas, pois
exerceremos nosso direito à legítima defesa
valendo-nos de nossa boa educação. Sim,
fomos educados para conviver em sociedade, embora vivamos
encarcerados em nossas casas. Construímos famílias
dando a elas o que temos de melhor: carinho, amor, proteção.
Esta, a partir de agora, será prestada pelo estado.
Estamos
desarmados, mas o estado que nos desarmou estará
olhando para vocês, eliminando agora a criminalidade.
Que falácia! Cidadãos de bem, não
se iludam: desarmar a sociedade não acabará
com a criminalidade. Quem portar arma legalmente, e treina
para isso, é aquele que defende o bem, que paga
por escola e por saúde (deveres do estado, não?),
e busca defender a vida de todos aqueles que ama, pois
o estado não tem condições de fazê-lo.
Anunciar o desarmamento agradaria a todos se acabasse
de fato com a criminalidade. Pena que não seja
verdade. O estado acaba de desarmar aqueles que não
são treinados para usar arma, possuem apenas as
permitidas, registradas e que, com certeza, em sua unanimidade
querem a paz.
Desarmar
o cidadão não fará com que os bandidos
deixem de nos abordar com suas armas de alto calibre.
Será que usar uma ou duas exceções
como motivo para desarmar o cidadão de bem é
a atitude correta, deixando que a regra (criminalidade
expansiva) continue se alastrando? Nos desarmar não
significa desarmar o ladrão, mas apenas dar a este
mais uma vantagem: saber que estaremos todos totalmente
indefesos. Assim, senhor ladrão, fique à
vontade ao nos abordar, mas não se esqueça
que ainda nos resta uma esperança: a de que o Poder
Judiciário saiba diferenciar o Direito da Justiça.
E antes disso, senhor ladrão, fique à vontade,
mas não confie que estaremos desarmados, pois os
que confiam na Justiça sabem quais são realmente
os seus deveres, e lembrarão quando tiverem que
tomar uma decisão para proteger a si mesmos e às
suas famílias.
*Artigo
publicado no Jornal do Comércio de Porto Alegre,
em 13 de janeiro de 2004. Página 4 – Opinião.
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